sábado, 24 de março de 2012

Galo - 104 anos da igrja universal do Reino do Galo

Os 104 anos e a Igreja Universal do Reino do Galo Fred Melo Paiva Publicação: 24/03/2012 04:00 (Jornal Estado de Minas)
Amanhã o Galo completa 104 anos. Imortal como Oscar Niemeyer. Razão de existir minha e de outros milhões, algo que não se explica e do qual tantas outras dezenas de milhões morrem de inveja. Porque o Atlético é diferente. O atleticano é diferente. Na sua alma tem uns calos que não se curam, uns rancores que não passam, aquela amargura que só os muito injustiçados podem compreender. A despeito disso, essa mesma alma é plena de fé no futuro e persistência no presente, não desiste nunca, não abandona o barco – como o galo de briga saído da pena do chargista Mangabeira, em fins dos anos 1930, e não por acaso adotado como nenhum outro. Por mais 104 anos, e até o fim dos tempos, o atleticano nascerá de novo a cada vez que sua veia do pescoço estiver prestes a pular para fora, naquela hora em que ele canta “Lutar, lutar, lutar” no Mineirão lotado. A pessoa desavisada pode achar que gostamos excessivamente de futebol. Está enganada. Nós não gostamos de futebol – gostamos de Atlético. Atleticano não fica vendo jogo da Liga dos Campeões, não sabe se o Messi é melhor que o Maradona, não perde tempo discutindo a Seleção. Eu, particularmente, nunca vi um jogo do Barcelona na vida e não perco meu tempo com isso. Quando fui cobrir uma Copa do Mundo para o jornal O Estado de S. Paulo em 2006, minha única preocupação era o Atlético. Chegava aos estádios e a primeira coisa que eu fazia era verificar quantas bandeiras do Galo apareciam nas arquibancadas. Procurava entrevistar os atleticanos, em detrimento de outros. Enviei ao Brasil um total de 12 reportagens. Em todas, rigorosamente todas, tinha a palavra “Atlético”. E por mais que houvesse uns gatos pingados com a bandeira do Cruzeiro, jamais os citei. Num raro momento de folga, em que poderia ter visitado um museu, fui à loja do Borussia Dortmund comprar uma jaqueta do Galo da Alemanha. Isso não tem a ver com futebol. Tem a ver com religião. Vejo agora que o culto ecumênico pelo aniversário do Galo, realizado desde 1999 na Catedral da Boa Viagem (e também no Natal, quando a Missa do Galo é rezada pelo papa), foi cancelado. Segundo o Atlético, a Arquidiocese de Belo Horizonte proibiu o clube de realizá-lo para “preservar o espaço sagrado para o qual ela foi constituída”. Estranhei a justificativa: uai, se é para preservar o espaço sagrado, o que de mais sagrado esse povo vai arrumar do que o Atlético? Só se for Jesus Cristo em pessoa. Da minha parte, acho que a gente devia deixar esse negócio de Deus para lá. Faz 104 anos que pedimos pelo Atlético, e só fomos de fato ouvidos em 1971. Convenhamos: Deus não está a fim de nós. Façamos como os fãs do Maradona, que abriram uma Igreja Maradonista, onde rola uísque do Paraguai e striptease. Na Igreja Universal do Reino do Galo teria imagens do Reinaldo e do Éder, tropeiro e chope gelado, Creedence e Beth Carvalho. Para ser convertido, o sujeito teria de parar no ar igual ao Dario. A massa pagaria o trízimo. Parabéns, meu Galo querido! Quero morrer te vendo bem vivo, amém.